terça-feira, 31 de maio de 2011

Trabalho infantil e feminino

Apesar da pouca idade, muitas crianças operavam máquinas industriais, como se fossem adultos. Fonte Petta, N. L. de. A fábrica e a cidade até 1930. São Paulo, Atual, 1995. p. 32

Um dos principais problemas dos operários no início do século XX, era a utilização da mão de obra infantil, devido a grande exploração dos operários, os mesmos precisavam colocar seus filhos muito cedo para trabalhar. Em um momento em que educação era muito precária e muito restrita a classes mais abastadas, o trabalho embora não fosse a melhor das escolas foi determinante para a que a classe trabalhadora passasse a se unir. O operário não era importante.Sua subjetividade, seus sonhos, desejos não contava.O que contava era que ele acordasse cedo com escuro e chegasse tarde em casa.Dormisse no máximo cinco horas por noite apenas para recuperar as forças físicas, para no dia seguinte voltar a um trabalho estafante, num ambiente sujo, empoeirado, úmido, escuro, sufocante.No início da industrialização da produção urbana e fabril, os fabricantes obrigavam os pais até a trazerem os filhos para as fábricas.E além das constantes mutilações nas máquinas por parte dos adultos cansados e mal alimentados, as crianças também foram vítimas de mutilações além de castigos corporais dados pelos capatazes das fábricas.
Crianças operárias que, junto com os adultos, formavam a mão-de-obra de uma fundição em 1920 - Foto Departamento do Patrimônio Histórico SMCPMSP



Operários ao lado das máquinas no interior de uma tecelagem paulistana, no início do séc. XX. Fonte Gli italiani nel Brasile, CUT.

Coleção de R. Haack, pertencente ao Museu Imperial, operários da fábrica da cascatinha.


Desde cedo os filhos de operários tinham que trabalhar para auxiliar no sustento da família. Fonte Petta, N. L. de. A fábrica e a cidade até 1930. São Paulo.
Opeários diante da fábrica, na cidade de São Paulo, pousando para a fotografia coletiva,no final do século XIX. Fonte Gli italiani nel Brasile - CUT.

A classe operária era numericamente pequena em relação à sociedade brasileira naquele período histórico, quando a maioria dos trabalhadores vivia sob relações de produção não capitalistas. O contingente operário, mesmo nas grandes cidades, era comparativamente menor que o conjunto dos trabalhadores. Com o tempo, a classe foi crescendo e ganhando contornos mais nítidos, multiplicando-se em número de operários e categorias profissionais.
Esse processo de transformações, que teve como centro a economia cafeeira e a implantação da indústria, resultou no surgimento e desenvolvimento de novas categorias e classes sociais.
À medida que esse processo de transformação avançou e a indústria foi sendo implantada, surgiram duas classes sociais – a burguesia e a classe operária, ou proletariado, como eram identificados os trabalhadores urbanos naquele contexto.
Com interesses contraditórios e mesmo antagônicos entre si. A primeira, formada por industriais, banqueiros, comerciantes, etc., proprietários das máquinas, capital, matérias-primas, enfim, dos meios de produção, subsistiu e se desenvolveu com base na exploração de mais-valia da força de trabalho.
A segunda, constituida por operários fabris, ferroviários, portuários, etc., encontrava-se expropriada dos meios de produção e dispondo, para sobreviver, apenas de força de trabalho que se via obrigada a vende no mercado para o capitalista em troca de um salário.
As condições de vida e trabalho dos primeiro operários brasileiros eram difíceis. A jornada de trabalho, em muitos casos, chegava-se a 12, 14 e até 15 horas por dia e os trabalhadores não tinham direito ao descanso semanal remunerado, a domingos, a feriados ou a férias anuais.
Não existiam, muitas vezes, contratos de trabalho. Os operários eram admitidos e demitidos verbalmente se sem qualquer tipo de indenização. em caso de atraso de pagamento, os operários não contavam com nenhum recurso jurídico contra seus patrões.
Os capitalistas não tinham qualquer obrigação cm caso de doença do trabalhador, mesmo em se tratando de acidentes de trabalho ou de doenças profissionais.
Acidentes de trabalho e doenças profissionais eram comuns na época, dado o enorme grau de insalubridade, periculosdade e péssimas condições de higiene nos ambientes de trabalho, doenças como tuberculose, pneumonia, e acidentes que causavam perdas de dedos, mãos e até mortes nas engrenagens e serras, nos locais de trabalho.
A disciplina e a coerção no interior das fábricas eram bastante rigorosas, visando a garantia do máximo de rendimento de mão-de-obra. Os operários estavam sujeitos a multas, castigos corporais, ameaças e outros tipos de coação. “Cada fábrica tinha um aspecto fosco e hostil de presídio, com seus guardas de portão fardados e armados, operários e operárias submetidas a vexatórias revistas e humilhantes observações, quando não recebiam ameaças de toda sorte.

Junto com as péssima condições de trabalho, a classe operária suportava o precário nível de vida, devido aos baixos salários, ao desemprego, ao custo de vida alto e aos aluguéis caros, o que trazia, como consequência, a subnutrição e as doenças.
A remuneração da mão-de-obra era estipulada, dentro da conjuntura do mercado de trabalho, segundo os cálculos de cada um empregador ou empregadores de cada setor econômico.

O exíguo grupo capitalista aglutinado em oligarquia patronal, que se havia abalançado à criação de fábricas geralmente de tecelagem e metalurgia, estabelecera seus cálculos sobre uma base salarial baixíssima, salário de escravo, exploração brutal do braço humilde que se encontrava em abundância no país, gente de pés descalços e alimentação parca – um punhado de farinha de mandioca, feijão, arroz, carne seca -, artigos alimentares baratos e abundantes no mercado; café adoçado com mascavo e um pouco de farinha, pois pão era artigo de luxo, bem como o leite, a carne, os condimentos e os legumes, estes últimos desconhecidos nas casas dos trabalhadores. E quanto à moradia, estava confinada a barracões em fundo de quintal, em porões insalubres, em casebres geminados (cortiços).
O Jornal “A Plebe” de agosto de 1902, “as casas eram infectas, as ruas, na quase totalidade, não são calçadas, há falta de água para os mais necessários místeres, escassez de luz e esgotos”.
Nas primeiras décadas deste século, as habitações operárias concentravam-se, geralmente, nas proximidades das fábricas, em bairros como Brás, Moóca, Belenzinho, Pari, Bexiga, Lapa, Água Branca, Cambuci, Ipiranga e Vila Prudente, em São Paulo. Bangú, Gamboa, São Cristóvão, Gávea, Tijuca, No Rio de Janeiro. Jaboatão e São José, No Recife.
Neles, predominavam cortiços e casas minúsculas em terrenos insalubres. Alguns empresários, como Jorge Street, Por exemplo, construíram vilas operárias, entre elas, a de Maria Zélia, em São Paulo. Embora confortáveis que os cortiços, isolavam-se os operários de outros setores da classe e os mantinham sob controle social e ideológico da empresa.
Os baixos salários, insuficientes para sustentar uma família operária, forçaram a entrada de mulheres e crianças no mercado de trabalho, onde passaram a representar uma parte significativa na composição da força de trabalho, principalmente dos setores têxtil, de vestuário ealguns outros.
Isso implicou um rebaixamento ainda maior dos salários e aumento do desemprego entre os trabalhadores adultos do sexo masculino; consequentemente, facilitou a superexploração da mão-de-obra proletária pela burguesia.
O jornal operário “A Plebe”, noticiou, em 1919, que os donos de uma tecelagem “despediram ontem, sem mais nem menos, 17 operários, todos eles já antigos na casa. Procurando saber os motivos de tal gesto, as vítimas puderam averiguar que eles pretendem arranjar menores para fazerem o serviço, porque as crianças são exploradas mais facilmente e contentavam-se com a pequena remuneração”. (Simão, 1976).
Em 1901, um relatório oficial apontou que um grande número de meninos de 09 a 11 anos trabalhava durante o dia e a noite nas indústrias, aparecendo até mesmo casos de crianças de 05 anos que vendiam sua força de trabalho.
Ainda segundo “A Plebe” citado no trabalho de Simão (1976) as mulheres nesse ano representavam 33% da força de trabalho em São Paulo.
Em 1912, ainda segundo essa mesma fonte, dos 10.204 operários de 31 fábricas têxteis de São Paulo, 67% eram mulheres e em grande parte menores. Segundo Carone (1988) “na indústria metalúrgica ou mecânica, o número de menores também era predominante, sendo que aqui o sexo aceito era o masculin. Com exceção de um reduzidíssimo número de técnicos (mecânicos, ferramenteiros, moldadores, fundidores) o restante era constituido de carvoeiros, alimentadores de fornalhas, fazendo serviços quase suicidas pelas bronquites, pneumonias, reumatismo que iam contraindo. Os menores (em que se contavam rapazinho de 08 anos) eram empregados em serviços pesados, alguns incompatíveis com sua idade e constituição física.”(1988).
Uma das principais lutas do movimento operário brasileiro era contra a utilização indiscriminada de mão-de-obra infantil nas industrias, como assinalou, em 1917, um artigo do jornal O Estado de São Paulo, por ocasião do recente movimento grevista uma das reclamações mais insistentes dos operários era contra a exploração dos menores nas fábricas. Aliás não faziam mais que exigir o cumprimento das leis existentes. Entretanto, os industriais, à exceção da firma X – que conta com a inimizade do inspetor sanitário – continuam a empregar menores em trabalhos impróprios. Entre eles, podemos citar nominalmente o sr. Y porque assistimos ontem à entrada de cerca de 60 pequenos às 19 horas na sua fábrica na Moóca. Essas crianças, entrando àquela hora, saem às 06 horas. Trabalhava, pois, 11 horas a fio, em serviço noturno, apenas com um descanso de 20 minutos, à meia-noite. O pior é elas se queixam de são espancadas pelo mestre de fiação. Muitas nos mostraram equimoses nos braços e nas costas. Algumas apresentam mesmo ferimentos produzidos com uma manivela. Uma há com as orelhas feridos por continuados violentos puxões. Trata-se de crianças de 12, 13 e 14 anos.




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